Ahhh, o amor!

Há amor de tudo quanto é jeito: amor que dá certo, amor que dá errado, amor que vira casamento, amor que não sai do zero a zero. Amor platônico, daqueles de trem e metrô. Amor de verdade, que se renova a cada viagem. Amor, amor, amor. Infinitas possibilidades de viver um, basta estar disposto a tal.

“We’ve got tonight, who needs tomorrow?
We’ve got tonight, baby
Why don’t you stay?”


Resquícios

Não há nada além de mim
Em linhas vermelhas no horizonte
Vejo o sorriso que deixamos pra trás
Quando caminhávamos na mesma direção
E não havia inflamação de egos
Apenas a pureza dos primeiros encontros
A mistura da crença e de um novo começo
De mãos dadas até o fim
Tudo fazia tanto sentido
De olhos fechados e rosas no vestido
Só via as luzes da grande avenida
Perdidos em meio a prédios e fantasia
O palco de nossa epopeia estava formado
Estação fria era aquela
Por favor, cachecóis e calor
Voltem com tudo pra mim
Sim, ainda há luzes na avenida
E posso ver seu brilho
Resquícios do que vi.

Imagem
“I know it’s late, I know you’re weary

I know your plans don’t include me
Still here we are, both of us lonely
Longing for shelter from all that we see
Why should we worry?”


Nada disso faz sentido

As horas me consomem
Espero suas mensagens
Aguardo o telefone tocar
Mas quando leio suas palavras
Ou escuto sua voz
Nada disso faz sentido

Busco respostas em você
Quando na verdade
Temo minhas próprias perguntas
Desisto e crio esperanças
Para driblar o tempo
Que não cansa de me interrogar.

“All of this is tearing us apart
I don’t know where else all this start
All of this is tearing us apart
I don’t know where else all this start”.


Um grito de socorro

Sabe quando a vida está uma droga e não sabemos que rumo tomar? Sinto-me assim, totalmente perdida, e essa sensação é constante em mim. E não é de hoje. Passo o dia me perguntando o que fazer, se fiz e faço as escolhas certas. Os caminhos estão aí, prontos para serem escolhidos, mas fico nessa inércia interminável. O tempo parou. O relógio não se move mais. E, quando penso que consegui resolver uma dúvida ou um problema, outros aparecem para emperrar meus passos, que já enferrujaram de tanto esperar. Pior que isso, continuo a descontar minha insatisfação em todos ao redor: namorado, mãe e os poucos amigos que restam. Parece que nada me faz bem, que sempre falta algo e que essas pessoas, agredidas pelo meu humor oscilante, não me satisfazem como eu gostaria. Mas, a pergunta que fica é a seguinte: o que realmente gostaria de receber delas? Não tenho essa resposta, como também fico devendo para as outras questões que assombram meu dia a dia.

Faço planos, para logo em seguida descartá-los, como se essa “eterna tentativa de novidade” fosse o refúgio do nada que me acomete. Afinal, quem não fica feliz quando planeja coisas para o futuro? Viagens, cursos, compras a longo prazo. Infelizmente, essa sensação de novidade acaba quando percebo que tudo isso está longe de se realizar. Perco a fé imediatamente, como se não fosse capaz de conquistar nada do que almejo. Tudo é tão difícil, demorado e, dentro da minha realidade, muito solitário.


Já pensei em largar o curso de japonês, em fazer pós-graduação, aula de jazz e de teclado; em começar a academia e fazer caminhada; em guardar dinheiro para o intercâmbio no Japão e, recentemente, pensei em mudar o foco para a Austrália (…); em morar sozinha ou dividir com alguém (algo que nunca saiu da teoria). Ah, quantos planos e pouca força de vontade para realizá-los. Em mim, há muitos sonhos, mas pouca coragem para buscá-los. Uso o poder da fala e da escrita para expressar minha insatisfação, que não é de hoje, e aproveito esse espaço para reclamar do fundo do meu coração essa dor que me persegue. Grito para o mundo que não me sinto bem, mas nada nem ninguém mudará alguma coisa. O problema está aqui, lá no cantinho do meu coração, e se eu não agir logo, essa inércia será parte definitiva de mim.

Socorro! Não quero isso! Mas também não sei por onde começar, o que fazer e quais caminhos seguir. Talvez eu precise de orientação psicológica ou umas biritas loucas pra desestressar (sou tão chata e careta que nem bebida alcoólica gosto). Vai ver tô precisando de umas companhias mais hard. A maioria dos meus amigos, os pouquíssimos que tenho, andam muito na linha, se é que me entendem.

A vida tá passando e estou apenas passando por ela. Que sensação horrível essa, de ser mais uma nesse planeta. Que diferença faz se eu desapareço hoje ou amanhã? Claro, minha família (mãe), meu namorado (coitado, tem uma paciência incompreensível para me suportar…) e alguns amigos sentirão algo, mas, mesmo assim, não me sinto parte de nada. Muito pelo contrário. Sinto que não me adapto a nada, que nada me faz bem ou feliz. Essa gente efusiva, barulhenta, cínica e duas caras. Tudo por aqui me deixa com ainda mais vontade de querer sair daqui. Aprendi a odiar São Paulo e tudo o que essa cidade atraí pra si. Em cada esquina, só enxergo sujeira, odor do Rio Pinheiros e Tietê e gente, gente demais, em grande parte sem personalidade ou opinião. Fugir daqui seria uma opção? Não sei. Creio que o problema maior esteja em mim. A cidade só ajuda a intensificá-lo.

É… quem disse que a vida é fácil? Muitos acreditam em sua simplicidade. De fato, ela é bem simples quando estamos viajando com amigos, na praia ou nas montanhas. Quando caímos em si, percebemos que a tranquilidade ficou pra trás, que tudo aquilo fora momentâneo, como tudo na vida, inclusive a própria felicidade, que é feita de pequenos momentos que levamos durante a vida toda.


Ovelha Negra

Se você também é a ovelha negra da família, provavelmente entenderá que suas palavras são mudas e não fazem efeito algum contra os argumentos daqueles que te julgam. Por mais que se esforce, seu maior pecado é ser você mesmo. As brigas, os gritos e as ofensas nada mais são do que seu eu querendo sair.

Não há cicatrizes, mas não podemos dizer o mesmo para a dor, o prenúncio do choro. Toda vez que o dedo indicador risca sua face, sem toque, apenas com o vento das acusações cheias de veneno sem cura.

A ovelha negra da família quer novo abrigo, claro, não será (e nunca foi) fácil de encontrar. O negrume das nuvens cobrem os planos. O Capitalismo insiste em ser o maior culpado e desvio dessa fuga sem destino.

Não há palavra que amoleça essa barreira impenetrável, que jorra sangue ininterruptamente pelo corpo. Assumimos a posição de ovelhas, pravo de alma, corrompidas pela estridente razão de ser. É mais fácil se juntar a maioria quando a minoria é surda, cega e louca.

Venham, ovelhas, juntem-se a mim. Formaremos um rebanho de olhos tristes, perdidos na escuridão que consome o que somos e deixamos de ser; há anos, sem dizer o porquê.


“Pretty pretty please
If you ever ever feel
Like you’re nothing
You’re fucking perfect to me”


Rugido

Ao leão que governa a selva da nossa amizade.

Era primavera
Seu rugido pousou sobre mim
Feito sussurro no escuro
Tornou-se eterna melodia

Havia uma barreira impenetrável
Cheia de dúvidas e segredos
Quebramos as regras do jogo
Experimentamos o fruto do medo

A distância encostou
Feito cola em sapato
E nada mais importa
A não ser o passar do tempo

O desconhecido nos aproximou
Entre Monte Fuji e Japão
Não há palavras que definam
A incompreensão dessa união

Vejo luzes na estrada
Ao longe, na Terra do Sol Nascente
Onde nos encontraremos novamente
Por hoje e sempre.


“Boku wa kimi no subete nado shitte wa inai darou
Soredemo ichi oku nin kara kimi wo mitsuketa yo
Konkyo wa naikedo honki de omotterunda.”


Mistério do Silêncio

As suas mãos escorrem feito cachoeira em penhasco
Que derrama suas histórias, úmidas
Sobre as folhas verdes e escuras
Cheias de mordidas de lagartas
Afiadas por descarregar a fúria da relva noturna

As flores sofrem caladas
Assim como tua face serena
Que engana até o mistério do silêncio
Em meio a tortura e esquecimento
Pétalas se misturam ao amor, sem medo.


“Pode falar, não importa
O que eu tenho de torta,
Eu tenho de feliz,
Eu vou cambaleando
De perna bamba e solta.”